Seis meses após o acidente que vitimou dois estudantes da Universidade Federal do Ceará (UFC), o Ministério Público do Ceará (MPCE) denunciou o motorista do caminhão por homicídio culposo na direção de veículo automotor e lesão corporal na direção de veículo automotor. Os crimes estão previstos nos artigos 302 e 303 do Código de Trânsito Brasileiro (CTB). Rhuan Cavalcante, de 37 anos, e Roberta Feijão, de 21 anos, eram primos.
Um laudo da Perícia Rodoviária Federal (PRF) indicou que o motorista do caminhão de combustível é responsável pelo acidente, ocorrido em 31 de março último, no município de Cascavel, a 61,9 km de Fortaleza.
O acidente aconteceu por volta das 20h30min no km 86 da BR-116, com o tombamento seguido de colisão frontal. Com o choque, um incêndio foi ocasionado e vitimou fatalmente os primos.
Conforme a conclusão do laudo feito pela PRF, o acidente foi causado pela reação tardia ou ineficiente do condutor de caminhão, que invadiu a faixa contrária. Outro fator contribuinte foi a presença de um buraco na pista.
Rhuan era estudante do curso de Engenharia Civil e recém empossado como novo presidente do Centro Acadêmico de Engenharia Civil de Russas (CAECIR).
A vítima também trabalhava como servidor técnico de suporte em infraestrutura de transportes (topografia), no Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) de Russas. Roberta era aluna do 5° semestre do curso de Engenharia da Produção, também em Russas.
Ao O POVO, o irmão e primo das vítimas, Luan Patryck Gomes Cavalcante, relata que após sete meses sem solução do caso, a família luta por justiça e pela criação de leis mais rigorosas em relação ao tráfego de veículos que transportam líquidos inflamáveis aos finais de semana.
“Lutamos pela celeridade na justiça. Que a justiça possa ser feita e que tanto o motorista quanto a empresa sejam punidos, para que eles aprendam a respeitar vidas. Destruiu toda uma família, porque foram duas perdas irreparáveis”.
Luan conta que a população do município de Russas se uniu aos alunos da UFC e e profissionais Dnit, gerando uma comoção, que resultou na criação uma lei. Uma das ruas principais do município recebeu o nome de Rhuan.
Uma mobilização também está sendo feita para que Roberta seja homenageada com seu nome em uma das salas do campus da universidade. “Estamos tentando juntamente com o reitor", explica.
O companheiro de Rhuan, Cícero Johnny Alves Mota, relata que tem tido crises de ansiedade quando vai ao município de Russas — onde moravam juntos — e lembra dos “momentos e planos que faziam juntos”.
“Completou pouco mais de 6 meses desde o acidente e ainda me sinto incompleto e um pouco perdido pela ausência do Rhuan. Ele sempre foi uma pessoa super responsável e competente em tudo que fazia, nos ajudávamos muito durante esse tempo”, relata.
Johnny também relata que se sente inconformado com a situação: “Além das marcas das queimaduras que tenho pelo corpo, tenho que lidar com o psicológico abalado. Sigo pedindo força a Deus para nos confortar e que se faça justiça para responsabilizar os culpados. Que fique a lição para tantos outros motoristas do que não fazer no trânsito”.
Mesmo sendo o único sobrevivente do acidente, Johnny não saiu ileso. Ele teve queimaduras de 2° grau pela cabeça, rosto, pescoço, braço esquerdo, mãos, ombro e costas. Ele relata que fez acompanhamento no Instituto Doutor José Frota (IJF) e no Instituto de Apoio ao Queimado (IAQ).
“Passei 9 dias internado. Após isso, fiquei indo 3 vezes na semana para trocar os curativos e fazer limpeza, durante 3 meses. Tendo custos com deslocamento, remédios, placas de silicone e manta compressiva”, diz.
Ele conta que precisou realizar um procedimento cirúrgico de enxerto no pescoço e, por isso, teve de ser internado novamente. “Fico indo ao IJF de tempo em tempo para o cirurgião ver como está a evolução do tratamento”, compartilha. Ele também relata que não recebe nenhum tipo de medicamento.
Site: O Povo